sábado, 20 de abril de 2013

Resultado da Gol: modelo de gestão precisa ser repensado


O resultado de 2012 divulgado pela Gol Linhas Aéreas nesta terça-feira (26) deixou o mercado em alvoroço e repleto de dúvidas se a empresa poderá se reerguer para continuar com o mesmo nível nas operações. Para especialistas, o mercado interno para o setor de aviação vem demonstrando grande crescimento nos últimos anos e há um descompasso no desempenho da empresa.
Erros de gestão e maior concorrência na área também contribuíram para a performance no ano passado, afirmaram analistas do setor aeroviário.
Número 
O número é impressionante: prejuízo de R$ 1,51 bilhão no ano passado. Em 2011, as perdas somaram R$ 751 milhões. Trata-se do pior resultado da história da Gol. A aérea apontou o aumento do preço dos combustíveis e a desvalorização do real frente ao dólar como justificativas. O presidente da Gol, Paulo Kakinoff, afirmou que a empresa deverá estender a redução da oferta da empresa para 2014. A expectativa é de uma diminuição de 8% a 10% na quantidade de assentos oferecidos ainda no primeiro semestre e 7% até o final de 2013. 
O jornal Folha de S.Paulo publicou nesta terça-feira que a empresa passará a operar no modelo Buy on Board (BOB), quando os passageiros terão de pagar por refeições e lanches, e que somente a água será gratuita. A informação se baseia em comunicado da empresa destinado a pilotos e comissários. 
Na Bolsa de Valores de São Paulo, embora tenham fechado em alta na terça-feira, as ações da empresa aérea encerraram o pregão desta quarta-feira em queda de 3,13%, cotadas a R$ 11,72. 
Associação de fatores
Para o professor da Escola de Engenharia de São Carlos da USP James Waterhouse, uma associação de equívocos de gestão e fatores conjunturais levaram ao desempenho da companhia em 2012. Segundo ele, a aquisição da Webjet teve como motivação absorver a demanda da concorrente, mas uma série de erros, como a demissão de 850 funcionários que recorreram à Justiça e obtiveram ganho da causa, fez com que a operação fosse nociva às finanças da empresa.  
Além disso, o professor destaca que o aumento de 18%  do combustível, em média, bem como o que classificou de "briga tarifária" entre as companhias do setor, trouxeram maiores custos à aérea. "O surgimento e a consolidação de empresas como Avianca e Azul trouxe maior concorrência no mercado", avaliou. 
Em relação ao suposto BOB que a empresa implementará e que já vem sendo relatado em voos por diversos passageiros, Waterhouse ressalta ser mais um erro de gestão. "Uma refeição básica custa muito barato. Esse tipo de medida e sua repercussão causa uma rejeição dos passageiros. Pode ser para mostrar uma austeridade no comando da empresa, mas pode ter o efeito reverso", destacou.
Apesar do resultado negativo histórico, o especialista não acredita em falência ou outras medidas mais drásticas. "A companhia tem um marketshare respeitável", com uma frota de aviões atualizada, rotas diversas e pontualidade. Além disso, está fazendo um grande esforço para se reestruturar", analisa. 
Concorrência eficaz
Ele destaca o modelo implantado pela companhia Azul, que tem eficiência "ímpar" no mercado da América Latina, e deve ser seguido. Outro problema, segundo o professor, é o fato de a frota da Gol ser padronizada com aviões Boeing 737, cuja capacidade média é de 150 passageiros. A parte positiva disso, explica, é padronizar a manutenção e treinamento de pilotos, o que reduz os custos. "Por outro lado, atingir vários pontos com o mesmo equipamento faz com que alguns aviões sejam muito grandes para algumas rotas e não fiquem ocupados", afirma.
"A Gol usa um modelo de gestão que funcionou e fez grande sucesso nos últimos anos,  mas o mercado é dinâmico. Outros modelos foram implementados e a Gol não se adequou. Além disso, quis fazer a aquisição da Webjet, que foi desastrosa. Para sair dessa ponta negativa, tem que mudar a forma de encarar o mercado", finalizou. 
"Enigma"
Para José Massa, sócio da JWMassa Consultoria e Assessoria, especializada no setor aéreo, o Brasil vive há mais de dez anos com uma taxa de crescimento média de 10% por ano no movimento de passageiros. "Mesmo assim as empresas estão tendo prejuízo. Há algo errado nessa equação, é um enigma", avalia. 
"Se estamos com uma taxa de movimento altíssima e as empresas amargam prejuízo, tem algo errado. Ou são as tarifas, ou a precificação do combustível. Cresce o mercado, mas diminui a lucratividade? Economicamente, isso é uma incoerência", afirma.
Para ele, a concorrência de empresas como a a Avianca e a Azul não afeta diretamente a Gol porque os segmentos em que atuam são distintos. "A malha de voos da Gol é muito mais abrangente", diz. "Se esse mercado estivesse ruim, as empresas internacionais estariam expandindo sua atuação no Brasil? Infelizmente, há divergência de pontos de vistas". 
Massa lança à dúvida o aproveitamento das rotas e da malha de voo adquiridas da antiga Varig, operação realizada em 2007 e que custou US$ 320 milhões. "O vácuo deixado pela Varig não foi suprido, especialmente em rotas internacionais", advertiu, lembrando que, na época, os analistas acreditavam que a compra da Varig daria mais robustez às operações da Gol. 


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