Quem vai viajar no fim deste ano já percebeu: os preços
estão mais altos. Só que as empresas aéreas não estão comemorando, pois amargam
prejuízos em 2012.
O ano em que os brasileiros mais andaram de avião foi o ano
em que as empresas tiveram prejuízo bilionário. “Este é o cenário mais adverso
em toda a série histórica da aviação nacional”, diz Paulo Sérgio Kakinoff,
diretor-presidente da Gol.Foi o ano em que a Webjet morreu, um ano que termina com disparada nos preços das passagens. Passar o réveillon em Fortaleza e voltar para São Paulo de avião pode custar R$ 7.841.
A alta no preço neste segundo semestre encerrou um longo período de passagens mais acessíveis. Nos últimos dez anos, houve alguns repiques, mas a tarifa média, que em 2002 era de R$ 498, caiu para R$ 272 em junho deste ano, já corrigida pela inflação. Veja os números:
Valor médio da passagem (em R$)
2002: 498,042003: 550,90
2004: 578,42
2005: 556,34
2006: 509,00
2007: 372,80
2008: 513,812009: 370,80
2010: 303,20
2011: 282,67Janeiro a julho de 2012: 272,64
Os preços em baixa fizeram o avião ultrapassar o ônibus como
meio que mais transporta passageiros em viagens de longa distância. Por que
esse salto nos preços agora, porém? Primeiro, há mais gente viajando de avião
que no ano passado e as empresas diminuíram o número de assentos
disponíveis. “Promover a redução da
oferta é a mesma coisa que vender água no deserto, ou seja, vão vender pelo
preço que querem”, afirma Claudio Magnavita, conselheiro da Anac.
“O preço da tarifa para o mesmo voo varia em função da
antecedência com que a passagem é comprada em relação à data do voo e a
velocidade que esse mesmo voo vai enchendo. Nesse final de ano, temos uma taxa
de ocupação dos voos mais altos, o que faz com que assentos mais caros sejam
comercializados”, explica Paulo Sérgio Kakinoff, diretor-presidente da Gol.
O aumento nos preços veio depois de um ano ruim para as
companhias aéreas, que amargam prejuízo de mais de R$ 1 bilhão. Como explicar a
crise no balanço das empresas se o mercado continua crescendo? O movimento nos
aeroportos é intenso. Em 2012, o Brasil deve bater um novo recorde no número de
passageiros transportados.
Foram 107 milhões de passageiros, quase três vezes o número
de 2003, de 37 milhões, segundo a Bain & Company. Depois de um período de
crescimento com a classe C, renda e emprego em alta, as empresas dizem que
foram atingidas pelo que alguns chamam de "tempestade perfeita".
É a conjunção de muitos fatores negativos: o aumento do
querosene de aviação e a alta do dólar, que pressiona o próprio preço do
combustível, além dos gastos com aluguel de aeronaves e manutenção. Culpam
ainda o reajuste das tarifas aeroportuárias e a forte pisada no freio da
economia.
“Depois de uma década de crescimento de dois dígitos ano
sobre ano, é o primeiro ano em que a gente está crescendo abaixo de 10%, ao
redor de 7%, 8%, no mercado doméstico brasileiro”, diz Bologna.
A saída foi cortar custos, e 2012 termina com uma cor a
menos nos pátios dos aeroportos. O verde da Webjet saiu de cena. A Gol fechou a
companhia um ano depois de comprá-la e demitiu 850 funcionários.
"Eles não fazem o enfrentamento necessário com o governo pra
diminuir os custos de impostos. Preferem diminuir no trabalhador, não dando
reajuste salarial decente, demitindo e permitindo que quem fique trabalhe mais,
faça excesso de jornada”, afirma Selma Balbino, presidente do Sindicato
Nacional dos Aeroviários.
“É um custo alto, porém bem menor do que o custo de demissão
de 17 mil pessoas que trabalham na Gol hoje”, diz Kakinoff, sobre o prejuízo da
imagem causada pela demissão em massa de ex-funcionários da Webjet. “A
companhia aérea com prejuízo de R$ 1 bilhão em um período de nove meses tem
obviamente uma situação de sangria em caixa importante. Nós estamos tomando
todas as medidas gerenciais justamente para mitigar esses efeitos, esses
impactos”.
Para André Catellini, especialista em aviação, o prejuízo também
é reflexo de erros de estratégia cometidos pelas empresas. “Houve agressividade
demais por parte das companhias aéreas, muita compra de muitas aeronaves, e
esse número de aeronaves, acabou se verificando, foi além do que o país está
pronto para absorver”, explica.
Ninguém mais do que o passageiro torce para as empresas
superarem a crise. Foi o crescimento do setor que fez com que a dona de casa
Eliane da Conceição comprasse a primeira passagem de avião. Com o marido e os
três filhos em São Paulo, estava prestes a embarcar para Maceió. “Estou com
medo, porque eu nunca fui”, disse.
A essa altura, o medo de voar já deve ter passado. Com o
aumento recente das passagens, fica o medo de não poder repetir a experiência.
“Todo sistema vive em função do passageiro e o passageiro não pode pagar essa
conta”, afirma Magnavita.
Fonte:g1.globo.com
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